sábado, 31 de julho de 2010

Qual a lógica das políticas de comunicação no Brasil?



Embora nos últimos tempos eu tenha um extremo desinteresse por tudo, me encantei com o livro "Qual a lógica das políticas de comunicação no Brasil?". De cara já fui simpática a ele, porque o ganhei carinhosamente da minha amiga Deisi, que na dedicatória chamou minha atenção pela lembrança que remeteu a mim... Política, Comunicação e Brasil em um só título, realmente não havia como eu não gostar!

O autor César Ricardo Siqueira Bolaño, discorreu brilhantemente sobre a construção das telecomunicações no nosso país, fazendo um resgate histórico e entendendo todo contexto político de cada época. Além disso, numerou os principais fatos relacionados à formação da atual realidade da comunicação brasileira, bem como abordou discussões atuais, como a televisão digital e a televisão a cabo.

Alguns fatos me chamaram muita atenção, como a política nacional de informática, a questão do capital estrangeiro e principalmente a discussão acerca da comunicação comunitária.
Esta última é pouco difundida no país por diversos aspectos,mas o pior deles sem dúvidas é a atual lei, baseada em instrumentos jurídicos construídos na época da ditadura militar, com objetivo de punir os inimigos do regime.
Talvez a discussão da comunicação comunitária seja mais interessante para mim, por conta do estudo recente a respeito desta que estou desenvolvendo, e confesso, é uma área encantadora.

O livro é extremamente esclarecedor e nos permite entender que alguns dispositivos da constituição que garantiriam um novo modelo de comunicação, nunca foram implementados por falta de regulamentação, que, é claro, não faz parte do interesse político das famílias que detém as conceções públicas dos principais meios de comunicação do país.

Enfim, trata-se de um livro leve e ao mesmo tempo esclarecedor, que informa e contextualiza a concepção da comunicação nacional.

Obs.: Buscando umas postagens antigas no meu blog pessoal, para movimentar o vamos-ler! Contribua também! =)

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Corações Sujos!


Corações Sujos - A história da Shindo Renmei

01. Introdução

O Livro reportagem é uma modalidade da comunicação impressa que consiste na exposição de uma história factual. O uso de recursos documentais é bastante explorado neste estilo, pois permite que a narração feita tenha sua veracidade comprovada. Além disto, assegura o caráter investigativo, jornalístico e informativo que precisa ter.

Um bom exemplo deste estilo é o livro Corações Sujos de Fernando Morais, que constrói a história dos imigrantes japoneses no Brasil, sua organização, seus conflitos culturais e políticos no desenrolar da Segunda Guerra Mundial. O autor embasa a construção não só com relatos dos entrevistados, mas com registros da época, como fotos, exemplares de jornais impressos e cartas, que comprovavam as afirmações feitas no decorrer da narração.

02. Breve esboço da história do livro

Em 1944, surgiu na colônia japonesa do Brasil uma associação secreta denominada Shindo Renmei, que significava Liga do Caminho dos Súditos. A organização possuía o objetivo de manter a tradição nipônica e a organização da grande comunidade oriental que vivia no país. Antes do fim da guerra, a clandestinidade existia porque os imigrantes japoneses foram proibidos pelo governo brasileiro de manter sua tradição, cultura, língua e preservação das atividades sociais, esportivas e políticas. A proibição que se estendia ao uso de eletroeletrônicos como o rádio foi decretada por esta colônia fazer parte das forças do Eixo na Segunda Guerra Mundial, força esta de oposição aos Aliados, apoiados pelo Brasil no conflito mundial. Com a rendição japonesa às forças aliadas em 1945, a Segunda Guerra Mundial chegava ao fim, o que se iniciava, entretanto, era um ciclo de conflitos e mortes na comunidade japonesa que vivia no Brasil.

Os diretores da Associação, não acreditavam e tampouco aceitavam a derrota do Japão na guerra, afinal isto jamais havia acontecido antes. Para eles, a divulgação da notícia era duvidosa, afinal, o Brasil apoiava as forças Aliada na guerra, e isto provavelmente não passava de uma manobra para que os orientais perdessem sua organização e força. A propagação desta idéia foi feita pela organização para garantir a honra à pátria. Os recursos iam desde montagens fotográficas e falsos jornais internacionais, até moedas falsas dos países “derrotados” com emissão no Japão. Estes garantiram que a maioria dos imigrantes acreditasse na vitória do Japão e das forças do Eixo na batalha mundial.

Existia, entretanto, uma parcela da comunidade nipônica que corroborava com as idéias brasileiras e acreditava na derrota japonesa na Segunda Guerra Mundial. Esta mínima parcela da colônia japonesa, chamada de “Corações Sujos” ou “derrotistas”, passou a sofrer perseguições da Shindo Renmei e dos “vitoristas”, como eram chamados os que acreditavam na vitória do Japão. Estas perseguições quando não em trapalhadas acabava geralmente em morte dos derrotistas.

Com o crescimento dos conflitos que passaram inclusive em alguns momentos a ser entre brasileiros e japoneses, as autoridades brasileiras, resolveram intervir, e o que começou na tentativa de convencimento dos líderes da Shindo Renmei da real derrota japonesa, terminou em prisões e deportações para o Japão, desta vez não mais dos corações sujos, mas dos “vitoristas”.


03. Caracterização de personagens e técnicas de reportagem

A narração da história da Shindo Renmei é feita minuciosamente como se o autor estivesse presente em cada cena, cada conflito relatado. Isto porque, o levantamento de informações detalhadas permitiu construções individuais, ou seja, cada personagem era analisado particularmente e tinha o perfil psicológico traçado e exposto no decorrer da narrativa.

Nem mesmo a tia ou os seis primos sabiam direito da vida de Shimano – que aos 27 anos era solteiro, não tinha namorada e só pensava em trabalhar. Eles não perceberam sequer que o parente havia trocado a lavoura pelo terrorismo. Afinal, ele nunca andava armado e jamais falara de política ou de guerra em casa. (MORAIS, 2001, P. 315)


Além das descrições, a construção individual foi feita através da identificação de cada personagem pela documentação, geralmente com fotografia utilizada pelo autor, como no caso de Tsuguo Kishimoto, que possui a seguinte legenda abaixo de sua foto frontal e de perfil:

O misterioso Tsuguo Kishimoto, em uma de suas prisões: informante do Exército e da polícia, “secretário” de Ademar de Barros e conselheiro da direção da Shindo Renmei. (MORAIS, 2001, P. 105)


As técnicas de reportagem são nitidamente percebidas, pois embora a construção seja narrativa e até literária, as características básicas do jornalismo investigativo são mantidas. Isto é observado na documentação presente, nas seqüenciais descrições de assassinatos cometidos pela Shindo Renmei, no número de entrevistados para a formação do contexto, na datação, na localização espacial facilmente identificada, nos processos narrativos realistas e na descrição. Além disto, a história é arquitetada a partir de uma verdade factual, que embora não seja atual, repercute diretamente na construção da história do país, e principalmente da colônia japonesa que aqui se instalou e é fortemente representada na contemporaneidade.

Por Amanda Lima

Obs.: Espero que gostem da Sugestão! Ah, e contribuam com o blog! =)